segunda-feira, 12 de novembro de 2012

TEATRO COMENTADO - BENTO COIMBRA

Atridas - O Homem Morto na Banheira

Espetáculo recria tragédia de Agamêmnon com encenação contemporânea

 
Foto Antonnione Franco

Ao ler no título da peça o nome da família “Átridas”, algum bom conhecedor do teatro grego pode esperar encontrar em cena personagens e acontecimentos anteriores ao retorno de Agamêmnon à Grécia após vencer a guerra de Troia. Como, por exemplo, a maldição de Mírtilo a Pêlops antes deste se tornar o rei do Peloponeso; ou ainda da disputa de Atreu e Tiestes, filhos de Pêlops, pelo trono de Micenas, episódio onde Tiestes seduz a mulher de Atreu e rouba-lhe o carneiro de lã de ouro que, de acordo com os deuses, lhe garantiria o trono. Mas nada disso acontece. Em “Átridas – O Homem Morto na Banheira” Atreu e Tiestes estão apenas no diálogo de seus respectivos filhos Agamêmnon e Egisto, e só.

Ansiedades e desejos pessoais à parte, a escolha da produção é trazer à cena uma boa adaptação inspirada no texto “Agamemnone”, do italiano Vittório Alfieri, focando a estória no retorno do Rei Agamêmnon, talvez o nome mais famoso da linhagem dos Átridas. Depois de liderar a vitória da Grécia sobre Troia, Agamêmnon retorna ao seu palácio em Argos para ser vítima de traição e morte pelas mãos de sua esposa Clitemnestra e seu arquirrival Egisto, filho de Tiestes, que aproveitou a ausência do Rei para tornar-se amante de sua esposa. A escolha parece acertada à medida que o espetáculo consegue desenvolver melhor a trama entre o retorno de Agamêmnon e o momento de sua morte, diferenciando-se do texto “Agamêmnon” de Ésquilo, e tornando a peça mais acessível ao publico.

Mas o que “Átridas – O Homem Morto na Banheira” tem de melhor é a encenação. Esta parece ter correspondência com a pesquisa realizada em outra montagem do Trupe de Teatro e Pesquisa intitulada “O Poema do Concreto Armado”. Na ocasião, a exemplo da montagem atual, o grupo também se valia da utilização de televisores e da ressignificação de um espaço alternativo multiuso. Desta vez, o cenário, cujo destaque é uma belíssima banheira que permeia a peça como o local onde Agamêmnon foi e será morto, abriga dois televisores. As imagens utilizadas nos vídeos são referências, ora concretas ora abstratas, ao que se passa na cena. Podemos identificar, por exemplo, imagens do filme clássico “Iphigênia”, quando a mesma é citada pela rainha, ou ainda da cantora e compositora Amy Winehouse quando Egisto, encarnando o fantasma de seu pai, canta a música “Back to Black”, da falecida popstar, cuja letra tem clara correspondência ao retorno de Tiestes para a escuridão e o fato de que a maldição de Mírtilo não morrerá, ou morrerá cem vezes e retornará.

Fazendo jus ao nome do grupo, a pesquisa é um elemento onipresente. Trabalhando de forma semiótica, a peça manipula tantos signos que é até difícil acompanhar. Na adaptação proposta ao texto é possível identificar, entre outras inserções, o poema dramático “Agamêmnon”, de Sêneca, o poema em prosa “Clitemnestra ou o crime”, de Marguerite Yourcenar, ou ainda trechos de“Hamlet Máquina”, do dramaturgo alemão contemporâneo Heiner Müller, inteligentemente transferido para a boca de Electra. Nas imagens, como havia citado, coabitam ícones clássicos e contemporâneos.

Na trilha sonora músicas de vertente techno e eletro em diálogo com canções cantadas pelos atores, reeditando, por exemplo, Lupicínio Rodrigues e outros temas em francês, inglês e indiano. Tal empreitada já não é tão bem executada já que é perceptível que alguns atores estão mais bem preparados para o canto do que outros, mas que, enquanto escolha, vale pela ousadia e profusão de signos compartilhados com as imagens.

Curiosamente parece ser uma escolha da direção orientar a interpretação dos atores, colando-lhes uma voz impostada, buscando algo que talvez se aproxime da imagem construída pelo mundo moderno da maneira como se devia fazer uma tragédia grega. A proposta incomoda inicialmente, mas, à medida que a entendemos e assimilamos, ela vai perdendo o estranhamento distanciado que gerava nos primeiros minutos e podemos até experienciar a catarse de uma história trágica. Entre os atores o destaque é Jader Corrêa que se mostra à vontade como o vilão Egisto que por vezes encarna o fantasma de seu pai. A transição entre esses dois personagens é o ponto alto de interpretação da peça. Yuri Simon e Pauline Braga também dão conta dos personagens centrais de Agamêmnon e Clitemnestra. Quem parece um tanto exagerada é Alice Corrêa que apoia sua construção de Electra em tensões faciais e vocais pouco críveis.

O figurino é mais um ponto onde a escolha é radical, mas que não atinge a mesma força dos outros elementos. Trata-se de uma clara apropriação oriental, de quimonos e calças largas, que buscam diálogo com o bastão de Aikidô utilizado para as cenas de luta. Embora funcione pontualmente principalmente aos homens, no todo parece perder em coerência, evocando pouco o brio de nobreza e feminilidade da rainha e sua filha.

“Átridas – o homem morto na banheira” tem o mérito de realizar apropriada intersecção entre o clássico e o contemporâneo com a competência de um grupo que completa 20 anos. Distinguindo-se pelo comprometimento com a pesquisa conceitual e estética, o grupo lança mão de recursos audiovisuais para apresentar uma tragédia com nova roupagem, sofisticando e enriquecendo o mito sem para isso torná-lo hermético.

sábado, 27 de outubro de 2012

ÁTRIDAS - PALAVRA DA PRODUÇÃO




Há 20 anos surgia a Trupe de Teatro e Pesquisa, desde seu início um grupo bastante heterogêneo, formado por pessoas oriundas do CEFET-MG, do Teatro Universitário e alunos da antiga FUMA (Atual Escola de Design). A somatória de pessoas e conhecimentos sempre foi o princípio construtor dos trabalhos realizados pelo grupo. A Trupe teve em sua formação muitos integrantes, mas um núcleo central participou de quase todos os trabalhos desde sua origem. Cinco deles estão também nesse novo trabalho, Yuri, Jader, Pauline, Heleno e Leo, além de integrantes que já haviam participado de outros trabalhos do grupo como Alice, Alexandre, Iolene, Marcus, Beto e Enedson; e novos colaboradores como Eder, Eugênio e Antonnione. 

Em 1996 a Trupe se aventurou na montagem de sua primeira tragédia grega, Iphigênia em Áulis, e chamou para direção do trabalho um dos maiores conhecedores de teatro clássico do Brasil, Ítalo Mudado (mentor e mestre de muitos dos integrantes da Trupe e de uma geração inteira de artistas teatrais de Belo Horizonte). Nesse ano de 2012 resolvemos nos aventurar novamente no universo Trágico dos Gregos e ao mesmo tempo fazer uma homenagem ao nosso saudoso mestre que nos deixou órfãos de seu grande conhecimento, amizade, generosidade, e eterna orientação. Alexandre Toledo, ator no espetáculo da Trupe O Poema do Concreto Armado, e que também deu aula ao lado de Ítalo Mudado no antigo Curso de Teatro Skené do Sesc-MG, se ofereceu para dirigir a montagem e dar continuidade aos recentes trabalhos de multilinguagem desenvolvidos pelo grupo. 

A escolha da história que queríamos contar não poderia ser outra: continuar aquela iniciada em Iphigênia, dando prosseguimento ao destino cronológico dos personagens Agamêmnon e Clitemnestra. E por um desejo realizado, no atual elenco os dois atores que viveram esses mesmos personagens em 1996. Mas a escolha do texto não foi tão fácil, depois de muita pesquisa optamos por utilizar uma adaptação do texto Agamemnone do poeta italiano Vittório Alfieri (inédito no Brasil) como linha condutora e cada integrante propôs fragmentos textuais, canções e imagens que gostaríamos de somar a fábula original, dando continuidade à própria natureza multifacetada do grupo. 

Mais de um ano de trabalhos realizados, entre ensaios e ideias, acreditamos que estamos prontos para apresentar ao público o novo espetáculo. Esperamos logicamente a satisfação dos espectadores, pois temos a certeza de que nos esforçamos muito para realizar mais um bom trabalho.
Trupe de Teatro e Pesquisa

ÁTRIDAS - PALAVRA DO DIRETOR




Montar um texto clássico. Meu primeiro espetáculo profissional foi uma tragédia grega: As Troianas, espetáculo de formatura do CEFAR dirigido pelo saudoso Raul Belém Machado. Quase vinte anos depois voltar ao trágico agora como diretor. O que significa dirigir uma tragédia grega nos dias de hoje? Torná-la teatro. Aliás, acerca da teatralidade, Barthes diz, entre outras coisas, se tratar do teatro menos o texto, de uma espessura de signos e de sensações que se edifica em cena a partir do argumento escrito. Tarefa difícil frente a um texto poderoso como o de Alfieri que nos serviu de guia, mais difícil ainda se compararmos com o de Ésquilo, pai de todos os autores trágicos. Revelar o teatro por trás do texto e descobrir conexões com outros sistemas signícos foi, desde o início, a tarefa a que nos propusemos, até mesmo para dar uma continuidade ao processo de pesquisa iniciado em O Poema do Concreto Armado, trabalho anterior da companhia do qual tive a felicidade de participar como ator. A direção teatral nunca é um trabalho individual, mas essencialmente coletivo, pois para ela convergem as diversas criações de atores, cenógrafo, figurinista, iluminador, dentre outros. Em Átridas fizemos quase tudo a muitas mãos. A partir do desejo inicial de montar o texto clássico fomos acrescentando outros desejos de textos, músicas e imagens. Um trabalho coletivo sim senhor ou, para seguir a onda atual, colaborativo. Fomos tecendo em conjunto o texto qual Penélope a espera de seu Ulisses (e também o desconstruindo na medida do possível teatral) e também as cenas e a pesquisa corporal e o Aikidô e o figurino figurando outros orientes e as músicas que todos queríamos cantar. E o trabalho foi tomando corpo e agora já ansiamos pela segunda parte.
Alexandre Toledo

sábado, 20 de outubro de 2012

Átridas – O Homem Morto na Banheira fica em temporada no Espaço Multiúso, de 26/10 a 4/11




Trupe de Teatro e Pesquisa inicia comemoração do aniversário de 20 anos com estreia de espetáculo no Sesc Palladium


BELO HORIZONTE (19/10/12) - A Trupe de Teatro e Pesquisa dá início às comemorações de seu 20° aniversário, estreando no Sesc Palladium o espetáculo Átridas – O Homem Morto na Banheira, que ficará em temporada no Espaço Multiúso, de 26 de outubro a 4 de novembro. A peça tem direção de Alexandre Toledo e é inspirada em textos trágicos a partir do mito grego de Agamêmnon.

O espetáculo é uma tragédia com linguagem cênica contemporânea baseada no mito grego da família dos Átridas, a partir das tragédias de Ésquilo, 485 a.C. e de Vittório Alfieri, de 1783, além de fragmentos de textos atuais e antigos. Um espetáculo que utiliza técnicas multimídia para contar o conflito familiar e os acontecimentos pós-guerra, iniciados com o retorno vitorioso do Rei Agamêmnon da guerra de Tróia. Clitemnestra, sua esposa, trama junto a seu amante, Egisto (primo de Agamêmnon), a morte do Rei.

“O homem é naturalmente trágico. Essa foi a grande inspiração para o trabalho desenvolvido no espetáculo Átridas – O Homem Morto Na Banheira. Foi a partir dessa premissa que buscamos, inicialmente, costurar referências tão diversas como Ésquilo e O’Neal, Sêneca e Yourcenar, Shakespeare e Heiner Muller, até chegarmos ao texto de Alfieri. A segunda questão enfrentada foi: como colocar esse texto em cena? Não pretendemos negá-lo, mas descortinar sua poesia e atualidade lançando mão de diversos recursos artísticos: palavra, música e vídeo. Toda obra teatral é uma confluência de várias linguagens”, pontua Alexandre Toledo, diretor do espetáculo.

TRUPE DE TEATRO E PESQUISA

A Trupe de Teatro e Pesquisa foi criada em 1993. Não é uma empresa e sim o nome fantasia utilizado por um grupo de artistas/criadores que, há mais de quinze anos, vem atuando em Belo Horizonte e se afirmando no meio teatral, conciliando no seu trabalho, a pesquisa, a busca por uma estética própria, o ecletismo e uma dramaturgia cênica contemporânea sem, contudo, deixar de se inserir no circuito comercial teatral. Já participou de inúmeros festivais de teatro e cultura, tanto em Minas Gerais, como em outros estados brasileiros. Nesses vinte anos de existência, a Trupe contou com a participação de muitos integrantes e diversos artistas convidados que participaram de vários trabalhos realizados. Ao todo, foram sete espetáculos, sendo que alguns ainda continuam em repertório.

FICHA TÉCNICA

Em cena: Jader Corrêa (Egisto), Pauline Braga (Clitemnestra), Yuri Simon (Agamêmnon), Alice Corrêa (Electra). Direção: Alexandre Toledo. Texto (inspiração): Vittório Alfieri. Tradução e dramaturgia: O Grupo. Preparação em canto e arranjos vocais: Leo Mendonza. Seleção Musical: O Grupo. Preparação de ator: Iolene Di Stéfano. Preparação em aikido: Eugênio Macêdo. Cenografia: Heleno Polisseni. Figurino: Jader Corrêa. Iluminação: Enedson Gomes. Programação Visual: Id3. Edição de Imagens e vídeo instalação: Antonnione Franco. Divulgação: Beto Plascides - Insight Comunicação e Cultura. Coordenação de produção: Yuri Simon. Produção: Trupe de Teatro e Pesquisa.

SERVIÇO

Evento: Espetáculo Átridas – O Homem morto na banheira, da Trupe de Teatro e Pesquisa.
Data: 26/10 a 04/11/2012 (sexta a domingo).
Local: Espaço Multiúso do Sesc Palladium (Av. Augusto de Lima, 420, Centro).
Horário: Sextas e sábados às 21h. Domingos às 20h.
Classificação: 14 anos.
Ingressos: R$10 (inteira) e R$5 (meia-entrada).

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

TEMPORADA DE ESTRÉIA

FINALMENTE MARCADA A TEMPORADA DE ESTRÉIA DO ESPETÁCULO
ÁTRIDAS - O HOMEM MORTO NA BANHEIRA
SALA MULTIÚSO DO SESC - PALLADIUM 4º ANDAR
DE 26 DE OUTUBRO A 4 DE NOVEMBRO
SEXTAS E SABADOS 21:00H E DOMINGOS 20:00H
INGRESSOS A PREÇOS POPULARES


terça-feira, 26 de junho de 2012

TRAGÉDIAS CONTEMPORÂNEAS V - A mulher, de 30 anos, jogou as crianças do alto de um prédio, em Moscou

Na Rússia, mãe mata os dois filhos por estar de "saco cheio" deles

Galina Ryabkova, de 30 anos, foi presa após confessar ter jogado seus dois filhos, um de quatro e outro de sete anos, da sacada do 15º andar de um prédio, porque estava de "saco cheio" das crianças. Ryabkova, cujo marido estava viajando a negócios, mora no oitavo andar, mas subiu até o 15º antes de matar os seus filhos. O homem, que preferiu não se identificar, disse que sua mulher ligou para ele, para avisar que as crianças estavam "caindo do prédio".


Após ouvir o barulho dos corpos caindo no chão, os vizinhos chamaram a polícia e correram para ver as crianças, e acabaram cruzando com a mãe no corredor. Eles a questionaram se não eram os seus filhos que estavam caídos na entrada, e ela respondeu: “São, sim, eu os joguei”, sem aparentar nenhuma emoção. Segundo o jornal inglês Daily Mail, a mãe matou as crianças porque estava de "saco cheio" delas e decidiu "se livrar dos filhos". As câmeras de segurança filmaram Ryabkova tentando sair do flat, em Moscou, instantes após o acidente. Os vizinhos não a deixaram sair do prédio até que a polícia chegasse. Ela foi levada para um hospital psiquiátrico para fazer testes, enquanto as investigações são concluídas. Fontes disseram que Galina Ryabkova já havia tentado se matar no passado.

http://noticias.r7.com/internacional/noticias/na-russia-mae-mata-os-dois-filhos-por-estar-de-saco-cheio-deles-20120626.html

segunda-feira, 11 de junho de 2012

TRAGÉDIAS CONTEMPORÂNEAS IV - Crime ocorrido em 2009

Tragédia familiar em Novo Hamburgo poderia ter sido maior: Em carta, empresária manifestou intenção de também matar a mãe

A tragédia ocorrida em Novo Hamburgo, na qual três integrantes de uma família foram mortos, poderia ter sido maior. Em uma das cartas escritas pela empresária Roselani Radaelli Picinini D'Ávila, 47 anos, autora confessa dos crimes, ela manifesta a intenção de matar a própria mãe, além do marido, da irmã e da sobrinha. Os três — Flávio Machado D'Ávila, 54, Rosângela Radaelli Picinini de Freitas, 45, e Maria Francisca de Freitas, seis — foram assassinados a facadas entre terça-feira e quarta-feira, em Novo Hamburgo. Depois, a empresária tentou se matar, mas os ferimentos não foram fatais.


Sobre a mãe, Roselani cita na missiva endereçada à cunhada: "Acredite, não estou louca, sei o que fiz e o que vou fazer ainda hoje (...) Faltará levar junto minha mãe, mas não conseguirei". Um dos investigadores da Polícia Civil disse que a empresária ainda não foi inquirida sobre esse assunto, mas isso deverá ser abordado.Em outro trecho, Roselani relata ter uma dívida de R$ 180 mil com a cunhada, e informa a maneira de quitar o valor. Ela comenta a situação da empresa: "Amo demais o Flávio para vê-lo sofrer. Sei que a fé dele era muito superior à minha, mas não sei baseado em quê, pois não temos mais volta. Devemos muito".Parte de uma das cartas é dedicada a explicar os motivos dos crimes. Sobre o marido, a empresária cita como motivação para seu assassinato "amor" e "achar injusto deixar ele com toda a carga sozinho". Quanto a Rosângela, a explicação é "porque também está infeliz". Por fim, conta sentir por Maria Francisca "muito medo do sofrimento dela no futuro".Roselani confessou ontem os crimes. Ela se recupera dos ferimentos no Hospital Municipal, em Novo Hamburgo. Autuada em flagrante por triplo homicídio, deve ser encaminhada ao presídio assim que receber alta.

http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/noticia/2009/04/tragedia-familiar-em-novo-hamburgo-poderia-ter-sido-maior-2478225.html

TRÊS ANOS DEPOIS O CASO AINDA NÃO FOI JULGADO

Veículo: Jornal NH - Polícia - página 25 / Processo de Roselani está parado no Tribunal
Há três ano , a empreária Roselani Radaelli Picinini D'Ávila, 50 anos, dava início à série de assassinatos mais impressionante da história de Novo Hamburgo. Na manhã de 14 de abril de 2009, degolou o marido, Flávio D'Avila, 54, e na madrugada seguinte, com a mesma faca, tirou a vida da irmã, Rosângela Radaelli Picinini de Freitas, 45, e da sobrinha Maria Francisca Radaelli de Freitas, de apenas 6 anos. Os crimes foram cometidos de forma premeditada. A empresária jura que foi por amor. Que matou os familiares para poupá-los do sofrimento causado pelas dívidas. Ainda sob forte medicação no Instituto Psiquiátrico Forense (IPF), em Porto Alegre, Roselani tem futuro indefinido. O processo está parado no Tribunal de Justiça, onde erá decidido e ela vai a júri ou se fica no IPF como incapaz. Após oito meses em ser movimentada, a ação irá para uma juíza substituta, pois a desembargadora que estava com a causa, Lais Barbosa, se aposentou. A análise é sobre recurso do promotor Jo é Nilton de Souza, que quer júri e pede novos exames mentais, contra a sentença de agosto de 2010, do juiz André Costa, que determina internação.

sábado, 9 de junho de 2012

TRAGÉDIAS CONTEMPORÂNEAS III

Tragédias familiares e O mal-estar da civilização

Que Freud me perdoe, mas preciso pegar emprestado o título acima, que é perfeito para descrever a barbárie que tem se alastrado entre pessoas de todas as classes sociais. O título acima pertence a um texto, no qual ele diz que os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e que, no máximo, podem defender-se quando atacadas; pelo contrário, são criaturas entre cujos dotes instintivos deve-se levar em conta uma poderosa quota de agressividade. Homo homini lupus e quando as forças mentais contrárias que normalmente inibem a violência se encontram fora de ação, o homem se revela como uma besta selvagem, a quem a consideração para com sua própria espécie é algo estranho. Atrocidades foram cometidas  em diferentes épocas. A civilização tem de utilizar esforços supremos a fim de estabelecer limites para os instintos agressivos do homem e manter suas manifestações sob o controle. Espera-se impedir os excessos mais grosseiros da violência brutal por si mesma, supondo-se o direito de usar a violência contra os criminosos; no entanto, a lei não é capaz de deitar a mão sobre as manifestações mais cautelosas e refinadas da agressividade humana.

O parágrafo acima expressa a preocupação de Sigmund Freud, na época da Grande Depressão. Hoje, passados quase cem anos, o esforço para conter a agressividade não só não se efetivou como também se robusteceu. Notícias sobre massacres, não de grupos terroristas contra um grupo específico ou qualquer grupo, não de um exército contra outro, mas de pessoas comuns contra seus colegas, contra crianças, contra vizinhos ou, pior ainda, contra seus descendentes, ascendentes, maridos e esposas, tem se tornado dolorosamente rotineiros.


Novo Hamburgo se destacou na mídia nacional, não na geração de empregos ou na educação, mas pela tragédia que se abateu sobre as famílias das pessoas que a empresária assassinou. O marido, a irmã e a sobrinha morreram, conforme suas palavras, escritas numa longa carta, porque não queria vê-los sofrer, pois amava-os demais. Provavelmente, ela odiava o fato de eles poderem ser felizes sem aquilo que ela considerava essencial: o dinheiro. O ter reinando sobre o ser. As pessoas sobrevivem nas condições mais adversas, pela simples razão de que na grande maioria, o instinto de sobrevivência é mais forte do que de morte. Ela não era e não é feliz e provavelmente jamais será. Seus valores são deturpados. Sua realidade é distorcida. Sua mente está fraturada. Sua alma, desconectada.
As tragédias familiares se multiplicam, um professor universitário matou o filho em São Paulo. E Novo Hamburgo, mais uma vez e passados apenas poucos dias, mais uma vez é palco de um crime, replica do anterior, no qual também um pai atira no filho e em si, tornando-se mais um número nas estátisticas das tragédias familiares. Resta o sofrimento para os familiares, que tentarão entender os motivos do ato e terão que conviver com a culpa de não ter percebido os indícios ocultos, como se isso fosse possível.
Tragédias familiares são parte da história da humanidade. O Próprio Freud utilizou-as para desenvolver suas teorias, haja visto que o Complexo de Édipo, pega emprestado o nome de uma tragédia grega, apresentada pela primeira vez em 430 d.C. em Atenas. Isso porém não diminui a urgência de se buscar alternativas que possam contribuir para reduzir esses eventos fatídicos. Parte da sociedade está em um processo de conscientização, de adoção de valores éticos, de cuidados com o meio ambiente, de respeito aos direitos humanos, enquanto outra parcela parece estar despencando num abismo no qual a vida humana não tem valor. A dor, a infelicidade, a ausência da espiritualidade afetam uma grande parcela, outra é refém das drogas, das falta de escrúpulos, de valores, da intolerância.
A humanidade combate a desumanidade, mas essa última parece se alastrar como uma pandemia. A herança que deixaremos para as gerações futuras será uma dívida impagável. Precisamos aprender e ensinar o respeito à diversidade, a reforçar valores éticos, a despir-nos de preconceitos e a sorrir, pois um sorriso destrói a tristeza e abre caminho para a luz.

Sora Ângela - Graduada em Ciências Sociais,  professora em escola pública. 
http://amaieski.wordpress.com/2009/04/26/o-mal-estar-da-civilizacao/ 

sexta-feira, 8 de junho de 2012

TRAGÉDIAS CONTEMPORÂNEAS II

Filhos que matam pais. Netos que assassinam avós. Tios que tiram a vida de sobrinhos. Pais que matam filhos. Realmente, soam atuais as palavras do mais famoso príncipe da Dinamarca quando se referiu ao estado das coisas em seu reino. São tragédias que muito se assemelham àquelas da ficção, as quais penso ter, por pano de fundo, salvo casos patológicos, o problema da desagregação familiar que parece ter se hospedado nos lares, despejado os valores da fraternidade e da alteridade, tomado o coração dos homens e proporcionado, sem prejuízo de outras causas, o incremento nos índices de violência.
Certa feita, Sêneca disse, a respeito dos gladiadores romanos, que eles eram entregues às feras logo de manhã e, no meio do dia, eram jogados ao público. Pois bem, hoje, em termos de exposição à violência das ruas, a regra, infelizmente, é essa: pela manhã, são os pais (que se dirigem ao local de trabalho); ao meio-dia, são seus filhos (que vão ou retornam da escola).


Penso que vários são os fatores desencadeadores da violência que nos cerca. O materialismo exacerbado que leva a pessoa a fazer tudo para satisfazer seus desejos, ainda que tenha que exterminar seu semelhante por causa de uma ninharia. A omissão da sociedade civil, que cobra do Estado uma relação paternalista, vinculação esta já sepultada pela História. A dificuldade do Poder Executivo em implementar ações sociais afirmativas, sem se esquecer das repressivas, que fazem a linha de frente contra os delinqüentes, tais como o policiamento comunitário e a efetivação da ótima Lei de Execução Penal.
Ainda saliento a postura do Poder Legislativo na criação de leis penais lenientes, que vão na contramão da onda de violência que afoga os cidadãos, que fazem lembrar a feliz constatação de Roberto Campos, de que o problema brasileiro não é de inflação legislativa, mas de diarréia normativa. A morosidade do Poder Judiciário é patente, sobretudo no julgamento dos processos criminais, transmitindo a sensação de impunidade para o cidadão, o que é provocado pelo enorme número de feitos sob a responsabilidade dos juízes e por leis penais e processuais penais anacrônicas. Enfim, alguns setores minoritários da imprensa falada e escrita também procuram chamar a atenção dos leitores com manchetes sensacionalistas que envolvam o tema em foco.
As soluções possíveis têm sido apontadas diariamente pela mídia com maiores ou menores variações e, no geral, consistem na tomada de atitudes que evitem as críticas aqui feitas e repetidas aos quatro ventos. Todavia, noto que, dentre as respeitáveis sugestões, não recebem a devida atenção aquelas reforçam o vínculo familiar sob qualquer ângulo, como, por exemplo, por intermédio de medidas legislativas ou ações afirmativas.
A família é a célula básica de uma sociedade. O vigor de todo o tecido social está umbilicalmente ligado a cada uma dessas células. Os problemas sociais, inclusive o da violência, são causados por pessoas, as quais nasceram em uma família e nela se amadureceram ou se envileceram; aprenderam a noção de amor ou de ódio ao semelhante; souberam viver a fraternidade ou conviveram sob a “Lei de Gérson”; foram preparadas para enfrentar as dificuldades da vida ou sofrem ante o menor contratempo; enfim, a família é a fonte emergente dos valores do homem e se ela adoece, a sociedade sucumbe. Vale a pena nela investir.
Por fim, enquanto houver homens, haverá desventuras, dada a falibilidade de nossa natureza. Não sejamos utópicos. Mas tal fato não nos isenta de empenhar todo o esforço possível para combater todo tipo de violência, certos de que, nesta árdua jornada, a esperança nos protegerá do desânimo, fornecerá alento diante de qualquer esmorecimento e dilatará nosso coração na perseverança.
Assim, tragédias gregas, tais como a de Faetonte, que caiu do carro do sol, após ter sido alvejado por um raio lançado por Júpiter, depois de ter consultado o pai daquele jovem, não mais ultrapassarão os limites dos livros de mitologia e nem ganharão versões contemporâneas.

André Gonçalves Fernandes - Juiz de Direito da 2ª Vara Cível e de Família da Comarca de Sumaré/SP. Bacharel e Mestre em Direito pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco em 1996 e 1999. Atua como magistrado desde 1997. Articulista do Correio Popular de Campinas e da Escola Paulista da Magistratura desde 2002.
http://www.portaldafamilia.org/artigos/artigo597.shtml

domingo, 27 de maio de 2012

JUSTIFICATIVA


Ao refletirmos sobre a tragédia, vemos que ela tem uma significação muito mais ampla do que simplesmente provocar o terror e a piedade. A reflexão sobre o sentido e o lugar da tragédia grega no contexto da cena teatral moderna e pós-moderna vem sendo desenvolvida por  estudiosos  de  diversos países. Encenar as tragédias em pleno século XXI é um desafio. Séculos nos separam do mundo grego e de suas formas de performance. Mas nada se torna mais atual que a tragédia. Isso porque o sentimento do trágico está no coração do homem e, como tal, não deixa de atingir a nossa existência de modo mais profundo.

A renovação do teatro contemporâneo se dá também por um retorno à tragédia grega, visto como o teatro das origens e a própria origem do teatro. Talvez, em função mesmo desta posição paradoxal e da abertura para a diversidade de sentidos presente no texto antigo, a tragédia foi, progressivamente, afirmando-se como fonte de renovação cênica, até se mostrar como um teatro experimental inserindo na encenação elementos ou signos próprios da sociedade atual.



Se hoje vamos aos terapeutas para aliviar nossas dores da alma; os gregos, na tradição clássica, iam ao teatro e, além de expurgarem suas próprias dores no palco, deparavam-se também com o prazer da emoção artística, ensejando bem o chamado efeito catártico, a purificação da alma, fim primeiro da tragédia grega. A tragédia apóia-se em conflitos humanos universais que atormentaram os homens de ontem e atormentam igualmente os homens de hoje. Em pleno século XXI, em toda parte do mundo, ainda se toma de empréstimo ou se recebe de presente dos gregos, um tema, uma personagem, um herói, ou um elemento trágico, a herança advinda das obras gregas, com o poder da força primitiva.

As possibilidades de encenações contemporâneas de tragédias gregas apontam para diversas questões relativas ao fazer artístico da atualidade, desde a participação do espectador, identidade cultural, atualização dos temas gregos em função das condições culturais da sociedade, formas de organização do espaço, re-escritura e adaptação de temas trágicos, entre outros. A possibilidade de discutir o modo como o próprio espaço cênico contribui para estabelecer o sentido do trágico está ligado ao nosso interesse de encenação. Neste movimento, buscaremos também identificar o modo como o espaço da tragédia poderá trazer questões relativas a uma percepção ou vivência contemporânea do trágico. Isto significa dialogar com questões como a relação entre caos e ordem, os espaços simultâneos, os espaços fragmentados, a polifonia do espaço, o espaço efêmero, entre outros. Assim, um dos temas mais problemáticos da arte contemporânea ganha relevo: o espaço.

OBJETIVO




O Objetivo principal desse projeto, para a Trupe de Teatro e Pesquisa é experimentar (interrogando, abrindo novas possibilidades, extrapolando as capacidades conhecidas pelo grupo) numa rara possibilidade de desenvolver uma pesquisa conjunta nas diversas linguagens visuais, teatrais, corporais e sonoras, utilizando de modernos recursos técnicos em uma encenação contemporânea valorizada por um enredo moderno e atual, que se sustenta em elementos universais com o trágico e os mitos clássicos extremamente atuais. Além disso objetiva também a apresentação de um espetáculo que possibilite explorar os espaços teatrais discutindo a fuga do atual formato de teatro em palco italiano, ou mesmo a frontalidade da cena, um trabalho complexo e arrojado e uma experiência enriquecedora todo o grupo que realizará a montagem.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

AS IMAGENS



O grupo pretende desenvolver o espetáculo a partir da utilização multi-visual do espaço, através de uma espacialização teatral em semi-arena, onde a relação com o espectador se dará a partir de três campos visuais distintos. Uma encenação centrada na essencial relação que se estabelece entre atores e público, redimensionando a comunicação teatral, seja ela visual, ou seja, ela espacial, na simples implosão do palco: explodindo a relação de frontalidade. Uma proposta de montagem que pretende através da utilização dos diversos recursos de percepção estética na encenação, o envolvido completo do espectador e seu deslocamento para o interior da cena, inserindo-o diretamente no contexto da fábula mítica apresentada.

Um espetáculo dinâmico, idealizado para atingir os sentidos e a percepção do espectador. Além de uma iluminação expressiva, uma trilha sonora que se aproveitará da damaticidade para aclimatar a conduzir a cena, utilizando desde a música clássica a atual música eletrônica, dá ópera ao havy-metal, da percusão primitiva ao tecno, e as demais vertentes sonoras contemporâneas. Elementos multimídia como a projeção de imagens e de forma atual, inteligente e original, mesclando personagens reais e virtuais em uma cenografia despojada, composta basicamente de elementos pontuais, como uma banheira (posicionada na entrada do público), um trono, 2 monitores de TV LCD e tecidos onde serão projetadas as imagens.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

APRESENTAÇÃO - DESCRIÇÃO DO PROJETO


O projeto Átridas (ou O Homem Morto na Banheira) propõe a realização de um espetáculo inspirada em textos trágicos a partir do mito grego de Agamêmnon e da maldição da família dos Átridas (descendentes de Atreu). Um espetáculo que pretende iniciar as comemorações dos 20 anos de atividade da Trupe de Teatro e Pesquisa. Ao nos propormos a encenar textos trágicos dos gregos à contemporaneidade, pretendemos captar, com sensibilidade, a força primitiva da origem do trágico, dando a encenação elementos necessários de modernidade, evidenciando os tons e entretons do gênero em nossa dramaturgia. A essência da tragédia está no coração do homem e, como tal, não se limita a tempo ou a espaço.

Apesar da montagem se inspirar principalmente no texto Agamemnone de Vittório Alfieri (que por sua vez re-escreve a tragédia original de Esquilo), interessam-nos muito mais os aspectos gerais da tragédia, enquanto estrutura dramatúrgica e enquanto representação de um conflito irreconciliável dos limites impostos ao homem que o leva a transgredir aquilo que se considera justo e correto. Além disso nossa construção dramatúrgica apresentará em sua estrutura fragmentos alinhavados de outros autores que relatam acontecimentos e situações por que passam esses personagens trágicos entre eles: Agamemnon, de Sêneca; Hamlet e MacBeth, de Willian Shakespeare; Hamlet Machine, de Heiner Müller; Clitemnestra ou o Crime, de Marguerite Yourcenar; As Moscas, de Jean Paul Sartre; e Electra Enlutada, de Eugene O´Neil.