sábado, 27 de outubro de 2012

ÁTRIDAS - PALAVRA DO DIRETOR




Montar um texto clássico. Meu primeiro espetáculo profissional foi uma tragédia grega: As Troianas, espetáculo de formatura do CEFAR dirigido pelo saudoso Raul Belém Machado. Quase vinte anos depois voltar ao trágico agora como diretor. O que significa dirigir uma tragédia grega nos dias de hoje? Torná-la teatro. Aliás, acerca da teatralidade, Barthes diz, entre outras coisas, se tratar do teatro menos o texto, de uma espessura de signos e de sensações que se edifica em cena a partir do argumento escrito. Tarefa difícil frente a um texto poderoso como o de Alfieri que nos serviu de guia, mais difícil ainda se compararmos com o de Ésquilo, pai de todos os autores trágicos. Revelar o teatro por trás do texto e descobrir conexões com outros sistemas signícos foi, desde o início, a tarefa a que nos propusemos, até mesmo para dar uma continuidade ao processo de pesquisa iniciado em O Poema do Concreto Armado, trabalho anterior da companhia do qual tive a felicidade de participar como ator. A direção teatral nunca é um trabalho individual, mas essencialmente coletivo, pois para ela convergem as diversas criações de atores, cenógrafo, figurinista, iluminador, dentre outros. Em Átridas fizemos quase tudo a muitas mãos. A partir do desejo inicial de montar o texto clássico fomos acrescentando outros desejos de textos, músicas e imagens. Um trabalho coletivo sim senhor ou, para seguir a onda atual, colaborativo. Fomos tecendo em conjunto o texto qual Penélope a espera de seu Ulisses (e também o desconstruindo na medida do possível teatral) e também as cenas e a pesquisa corporal e o Aikidô e o figurino figurando outros orientes e as músicas que todos queríamos cantar. E o trabalho foi tomando corpo e agora já ansiamos pela segunda parte.
Alexandre Toledo

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