Tragédias familiares e O mal-estar da civilização
Que
Freud me perdoe, mas preciso pegar emprestado o título acima, que é
perfeito para descrever a barbárie que tem se alastrado entre pessoas
de todas as classes sociais. O título acima pertence a um texto, no
qual ele diz que os homens não são criaturas gentis que desejam ser
amadas e que, no máximo, podem defender-se quando atacadas; pelo
contrário, são criaturas entre cujos dotes instintivos deve-se levar em
conta uma poderosa quota de agressividade. Homo homini lupus e quando as forças mentais contrárias que normalmente inibem a violência
se encontram fora de ação, o homem se revela como uma besta selvagem, a
quem a consideração para com sua própria espécie é algo estranho.
Atrocidades foram cometidas em diferentes épocas. A civilização tem de
utilizar esforços supremos a fim de estabelecer limites para os
instintos agressivos do homem e manter suas manifestações sob o
controle. Espera-se impedir os excessos mais grosseiros
da violência brutal por si mesma, supondo-se o direito de usar a
violência contra os criminosos; no entanto, a lei não é capaz de deitar
a mão sobre as manifestações mais cautelosas e refinadas da
agressividade humana.
O
parágrafo acima expressa a preocupação de Sigmund Freud, na época da
Grande Depressão. Hoje, passados quase cem anos, o esforço para conter a
agressividade não só não se efetivou como também se robusteceu.
Notícias sobre massacres, não de grupos
terroristas contra um grupo específico ou qualquer grupo, não de um
exército contra outro, mas de pessoas comuns contra seus colegas, contra
crianças, contra vizinhos ou, pior ainda, contra seus descendentes,
ascendentes, maridos e esposas, tem se tornado dolorosamente rotineiros.
Novo
Hamburgo se destacou na mídia nacional, não na geração de empregos ou
na educação, mas pela tragédia que se abateu sobre as famílias das
pessoas que a empresária assassinou. O marido, a irmã e a
sobrinha morreram, conforme suas palavras, escritas numa longa carta,
porque não queria vê-los sofrer, pois amava-os demais. Provavelmente,
ela odiava o fato de eles poderem ser felizes sem aquilo que ela
considerava essencial: o dinheiro. O ter reinando sobre o ser. As
pessoas sobrevivem nas condições mais adversas, pela simples razão de
que na grande maioria, o instinto de sobrevivência é mais forte do que
de morte. Ela não era e não é feliz e
provavelmente jamais será. Seus valores são deturpados. Sua realidade é
distorcida. Sua mente está fraturada. Sua alma, desconectada.
As
tragédias familiares se multiplicam, um professor universitário matou o
filho em São Paulo. E Novo Hamburgo, mais uma vez e passados apenas
poucos dias, mais uma vez é palco de um crime, replica do anterior, no
qual também um pai atira no filho e em si, tornando-se mais um número
nas estátisticas das tragédias familiares. Resta o sofrimento para os
familiares, que tentarão entender os motivos do ato e terão que
conviver com a culpa de não ter percebido os indícios ocultos, como se
isso fosse possível.
Tragédias
familiares são parte da história da humanidade. O Próprio Freud
utilizou-as para desenvolver suas teorias, haja visto que o Complexo de
Édipo, pega emprestado o nome de uma tragédia grega,
apresentada pela primeira vez em 430 d.C. em Atenas. Isso porém não
diminui a urgência de se buscar alternativas que possam contribuir para
reduzir esses eventos fatídicos. Parte da sociedade está em um
processo de conscientização, de adoção de valores éticos, de cuidados
com o meio ambiente, de respeito aos direitos humanos, enquanto outra
parcela parece estar despencando num abismo no qual a vida humana não
tem valor. A dor, a infelicidade, a ausência da espiritualidade afetam
uma grande parcela, outra é refém das drogas, das falta de escrúpulos,
de valores, da intolerância.
A
humanidade combate a desumanidade, mas essa última parece se alastrar
como uma pandemia. A herança que deixaremos para as gerações futuras
será uma dívida impagável. Precisamos aprender e ensinar o respeito à
diversidade, a reforçar valores éticos, a despir-nos de preconceitos e a
sorrir, pois um sorriso destrói a tristeza e abre caminho para a luz.
Sora Ângela - Graduada em Ciências Sociais, professora em escola pública.
http://amaieski.wordpress.com/2009/04/26/o-mal-estar-da-civilizacao/
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